quarta-feira, 12 de setembro de 2012

REFLETINDO SOBRE A PROPOSTA TRIANGULAR



A PROPOSTA TRIANGULAR

As novas práticas sustentam a necessidade de o ensino escolar de arte contemplar a abordagem triangular, proposta por Ana Mae Barbosa desde 1986, como eixo norteador desse ensino-aprendizagem, de modo que a produção, a leitura e a contextualização da obra de arte, além de desenvolverem os conhecimentos pertinentes a ela, sirvam cada vez mais de referenciais para uma leitura crítica do mundo.

Considera, Barbosa que o produto não é reflexo do talento ou do dom, mas da capacidade de experimentar de cada um. Quando crianças e jovens se arriscam a desenhar, esculpir, representar, modelar, tocar, escrever, se reconhecem como participantes e construtores de seus próprios caminhos e avaliar de que maneira se dão os atalhos, as encruzilhadas, as estradas, e a arte fará parte de sua vida.

Citando Ana Mae Barbosa e esclarecendo as ações de sua proposta triangular:
(...) esta metodologia do ensino da arte corresponde às quatro mais importantes coisas que as pessoas fazem com arte. Elas a produzem, elas a vêem, elas procuram entender seu lugar na cultura através do tempo, elas fazem julgamento acerca de sua qualidade. (Barbosa, 1991, p.36-37)
O termo triangular refere-se aos três aspectos contemplados por esta proposta - fazer artístico, leitura da imagem e história da arte.

O fazer artístico propicia a auto-expressão, estimulando o pensamento pela criação visual e desenvolvendo maior força expressiva na produção das formas, já que este fazer está associado às imagens. Não é um fazer desvinculado de conteúdo, como ocorre, por exemplo, quando a livre-expressão é mal interpretada pelos docentes ou é usada como justificativa para encobrir as deficiências em sua formação profissional, mas está contextualizada pela história da arte e interpretada pela leitura de imagens.

A leitura de imagens propicia o desenvolvimento das habilidades de ver, interpretar e julgar as obras de arte e seus elementos, com flexibilidade, devido à pluralidade de propostas de leitura existentes, como a estética, a iconográfica, a gestáltica e a semiológica.

A História da Arte ajuda a criança a entender alguma coisa de tempo e lugar, pelos quais todos os trabalhos artísticos se situam: nenhuma forma de arte existe em um vácuo descontextualizado. (BARBOSA, 2008)

Por esse motivo Rebouças defende que:
“A presença das imagens na educação escolar e sua leitura são tão necessárias como a de qualquer outro texto verbal. As dificuldades na formação de leitores produtivos da língua, capazes de ler, escrever, falar, interpretar criticamente são tanto da linguagem verbal quanto da não-verbal. O que propomos é que esse leitor possa perceber as diferentes estratégias e efeitos de sentido presentes nos textos, e seja levado a refletir sobre a sua própria produção e a produção dos outros.”

A arte não representa ou apenas reflete a realidade. Ela apresenta uma realidade percebida, imaginada, idealizada, abstraída. Se entendermos que a arte é linguagem, construção humana que comunica idéias, a obra de arte é um texto visual que deve ser descrito, analisado, interpretado, tanto à luz do contexto em que foi criada quanto à do que está sendo lido e essa leitura deverá ultrapassar a descrição dos aspectos formais da obra, de maneira a possibilitar a construção de significados para os leitores.

Segundo Paulo Freire, aprender a ler e a escrever é, antes de tudo, aprender a ler o mundo, compreender seu contexto:

“... a leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a leitura desta não possa prescindir da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua  crítica implica a percepção das relações entre texto e contexto.”

A arte é um conhecimento que proporciona a aproximação entre pessoas de culturas diferentes. Essa aproximação se dá pela própria obra de arte e sua concepção estética e não somente pelas informações histórico-sociais de seu tempo. Compreendendo que o papel da arte na educação está relacionado aos aspectos artísticos e estéticos do conhecimento, as crianças e jovens nas aulas de arte poderão expressar o seus modos de ver o mundo nas linguagens artísticas, concretizando em formas plásticas, gestuais, cênicas, entre outras, o que estava somente na imaginação.


REFERENCIA
 REBOUÇAS, Moema Martins. A construção do Conhecimento Artístico nas aulas de Educação Artística das Escolas de 1º Grau das prefeituras de Vitória e da Serra, Dissertação de mestrado, Vitória, PPGE/UFES, 1995.

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