A
PROPOSTA TRIANGULAR
As novas práticas sustentam a necessidade de o
ensino escolar de arte contemplar a abordagem triangular, proposta por Ana Mae
Barbosa desde 1986, como eixo norteador desse ensino-aprendizagem, de modo que
a produção, a leitura e a contextualização da obra de arte, além de desenvolverem
os conhecimentos pertinentes a ela, sirvam cada vez mais de referenciais para
uma leitura crítica do mundo.
Considera, Barbosa que o produto não é reflexo do
talento ou do dom, mas da capacidade de experimentar de cada um. Quando
crianças e jovens se arriscam a desenhar, esculpir, representar, modelar,
tocar, escrever, se reconhecem como participantes e construtores de seus
próprios caminhos e avaliar de que maneira se dão os atalhos, as encruzilhadas,
as estradas, e a arte fará parte de sua vida.
Citando
Ana Mae Barbosa e esclarecendo as ações de sua proposta triangular:
(...)
esta metodologia do ensino da arte corresponde às quatro mais importantes
coisas que as pessoas fazem com arte. Elas a produzem, elas a vêem, elas
procuram entender seu lugar na cultura através do tempo, elas fazem julgamento
acerca de sua qualidade. (Barbosa, 1991, p.36-37)
O
termo triangular refere-se aos três aspectos contemplados por esta proposta -
fazer artístico, leitura da imagem e história da arte.
O
fazer artístico propicia a auto-expressão, estimulando o pensamento pela
criação visual e desenvolvendo maior força expressiva na produção das formas,
já que este fazer está associado às imagens. Não é um fazer desvinculado de
conteúdo, como ocorre, por exemplo, quando a livre-expressão é mal interpretada
pelos docentes ou é usada como justificativa para encobrir as deficiências em
sua formação profissional, mas está contextualizada pela história da arte e
interpretada pela leitura de imagens.
A
leitura de imagens propicia o desenvolvimento das habilidades de ver,
interpretar e julgar as obras de arte e seus elementos, com flexibilidade,
devido à pluralidade de propostas de leitura existentes, como a estética, a
iconográfica, a gestáltica e a semiológica.
A História da Arte ajuda a criança a entender alguma
coisa de tempo e lugar, pelos quais todos os trabalhos artísticos se situam:
nenhuma forma de arte existe em um vácuo descontextualizado. (BARBOSA, 2008)
Por esse motivo Rebouças defende que:
“A presença das imagens na educação escolar e sua
leitura são tão necessárias como a de qualquer outro texto verbal. As
dificuldades na formação de leitores produtivos da língua, capazes de ler,
escrever, falar, interpretar criticamente são tanto da linguagem verbal quanto
da não-verbal. O que propomos é que esse leitor possa perceber as diferentes
estratégias e efeitos de sentido presentes nos textos, e seja levado a refletir
sobre a sua própria produção e a produção dos outros.”
A arte não representa ou apenas reflete a
realidade. Ela apresenta uma realidade percebida, imaginada, idealizada,
abstraída. Se entendermos que a arte é linguagem, construção humana que comunica
idéias, a obra de arte é um texto visual que deve ser descrito, analisado,
interpretado, tanto à luz do contexto em que foi criada quanto à do que está
sendo lido e essa leitura deverá ultrapassar a descrição dos aspectos formais
da obra, de maneira a possibilitar a construção de significados para os leitores.
Segundo Paulo Freire, aprender a ler e a escrever
é, antes de tudo, aprender a ler o mundo, compreender seu contexto:
“... a leitura do mundo precede a leitura da
palavra, daí que a leitura desta não possa prescindir da leitura daquele.
Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser
alcançada por sua crítica implica a
percepção das relações entre texto e contexto.”
A arte é um conhecimento que proporciona a
aproximação entre pessoas de culturas diferentes. Essa aproximação se dá pela
própria obra de arte e sua concepção estética e não somente pelas informações histórico-sociais
de seu tempo. Compreendendo que o papel da arte na educação está relacionado
aos aspectos artísticos e estéticos do conhecimento, as crianças e jovens nas aulas
de arte poderão expressar o seus modos de ver o mundo nas linguagens
artísticas, concretizando em formas plásticas, gestuais, cênicas, entre outras,
o que estava somente na imaginação.
REFERENCIA
REBOUÇAS,
Moema Martins. A construção do Conhecimento Artístico nas aulas de Educação Artística
das Escolas de 1º Grau das prefeituras de Vitória e da Serra, Dissertação
de mestrado, Vitória, PPGE/UFES, 1995.
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